segunda-feira

Descontrução Junina

Versos virados do avesso

Luiz Gonzaga que me perdoe, mas foi inevitável. Assim como sua música "Olha pro céu" me serviu de cenário e trilha sonora para o começo de uma história de amor que não deu certo, vejo que ela, agora, me serve de inspiração para o triste final da mesma. Vi na desconstrução da música de Gonzaga a possibilidade de fazer um contraste da alegria do começo com a dor da separação. Para alguns, pode parecer falta de criatividade minha o fato de partir de uma textura já pronta e já tão conhecida de todos. Mas garanto a qualquer um que a originalidade está intrinsecamente ligada ao contexto vivido por este autor (des)construtor, desde a gênese até o apocalípse da situação vivida. Situação vivida, consumida e, logo após, morrida.
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DESCONSTRUÇÃO JUNINA
(por Miguel Félix)

Eu olho pro céu, meu amor
E vejo que ele já não é mais tão lindo
Não tem estrelas, nem brilho, nem cor
E nem vejo fogos surgindo

Foi numa noite, quase igual a esta
Que tu arrancastes meu coração
O céu já não estava mais em festa
E já não era mais dia de São João

Já não havia mais balões no ar
Nem xote, xaxado ou baião
E foi à distância, sem poder mais te olhar
Que você pediu separação
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domingo

Mistério

"E no meio de tanta gente eu encontrei você..."

Era véspera de São João quando Miguel saía de casa, indo ao encontro de alguns amigos numa festa junina, no centro da cidade. Já era tarde, a rua estava vazia, e com muito medo do escuro e da desertidão daquela noite tão fria e cinzenta, o jovem rapaz decide esperar seu ônibus numa rodoviária próxima à sua casa. E foi ali que tudo começou. Miguel só não imaginava a tamanha surpresa que o aguardava ao final daquela noite tão fria, tão comum, tão cinzenta, e que tinha tudo para ser apenas mais uma, igualzinha a todas as outras - mas que não foi.
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O São João, a multidão, e eu...

Sozinho - mesmo cercado por 1 milhão de pessoas

"E no meio de tanta gente eu encontrei você
Entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio...

E eu que pensava que não ia me apaixonar
Nunca mais na vida"


Musiquinha antiga da Marisa Monte que nunca havia me dado conta de tanta beleza e poeticidade juntas numa só obra. Mas me vem a dúvida: nunca me dei conta da existência dessa música ou nunca vivi antes a necessidade de expressar tudo o que ela diz? Acredito que um pouco dos dois...

Então, deixo que ela (a música) fale por mim. No final das contas, será traduzido todo um sentimento vivido e que já não me faz mais tanta falta. Afinal, hoje, depois de tanta ressaca, posso apreciar esse tipo de literatura livre de maus sentimentos.


NÃO VÁ EMBORA
(Arnaldo Antunes e Marisa Monte)

E no meio de tanta gente eu encontrei você
Entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio
E eu que pensava que não ia me apaixonar
Nunca mais na vida

Eu podia ficar feio só perdido
Mas com você eu fico muito mais bonito
Mais esperto
E podia estar tudo agora dando errado pra mim
Mas com você dá certo

Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais

Eu podia estar sofrendo caído por aí
Mas com você eu fico muito mais feliz
Mais esperto
Eu podia estar agora sem você
Mas eu não quero, não quero

Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais


sábado

TUDO QUE É BOM DURA POUCO

"Porque você é uma pessoa muito boa... e não quero te magoar"

Ser considerado uma "pessoa muito boa", para mim, sempre foi motivo de muito orgulho e satisfação. E não é pra menos: ouvir isso das pessoas me dá a garantia de que, mesmo sabendo que sou imperfeito, cheio de manias e defeitos, vejo que, de alguma forma, tenho conseguido cativar, cultivar e colecionar algum tipo de carinho, apreço e afeição que algumas pessoas dizem ter por mim, o que, de certa forma, me leva a perceber que estou conseguindo fazer algo de correto nessa vida.


Vantagem?
Sim... só não sei até que ponto.

Meu maior dilema é perceber que essa dita "virtude" é, por vezes, uma faca de dois gumes, possuindo um alto poder de atração, mas também de repelência - infelizmente. Assim como consigo atrair a alguns por esta qualidade, há também aqueles que fogem, me evitam e até inventam que vão viajar quando os procuro para conversar...

Mass... sempre fazendo jus à minha dada patente de "pessoa muito boa", tenho procurado fazer a minha parte, na dura tentativa de trazer honra ao mérito. Afinal, uma "pessoa muito boa" sabe muito bem que "sem o esforço da busca, é impossível a alegria do reencontro" - e iniciativa é tudo nessas horas.

Só não consigo entender, até o momento, quais são os motivos que levam alguém a se afastar de uma pessoa dita "tão boa" e ainda usar esse tipo de argumento como justificativa. Isso é muito paradoxal pro meu entendimento.

Só sei de uma coisa: alegria de "pessoa muito boa" dura muito pouco. Muito pouco mesmo.


Último Desejo

Música de Noel Rosa que já conhecia, mas não me imaginava nunca vestido em tais palavras...



ÚLTIMO DESEJO
(Noel Rosa / Maria Rita)


Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão.

Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar

Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar...

Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação

Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim

Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim


AMOR JUNINO

Uma história sem verbos

Certa vez, na faculdade, li um texto que achei muito interessante. Sugerido pelo nosso então professor de Teoria e Crítica Literárias, Edson Tavares (E.T.), o texto, chamado "Circuito Fechado" - escrito por Ricardo Ramos -, chama a atenção pela forma como se apresenta: com ausência total de verbos. Mas, seria mesmo possível um texto assim, sem verbos?

Sim, vi que era possível. E Achei a idéia tão interessante que, algum tempo depois, resolvi aplicá-lo como atividade numa turma de Inglês Instrumental básico num cursinho pré-vestibular onde ensinei, apenas para trabalhar Coesão e Coerência, apresentando aos alunos uma noção de seqüência lógica textual. Foi o maior sucesso - ou, no mínimo, muito divertido. E a grande maioria da turma concordou comigo num ponto: é realmente incrível a forma como a seqüencia lógica narrativa se forma em nossa mente ao ler um texto como aquele. Parece um filme que se projeta em nossa mente!

Aproveitando o mesmo estilo usado por Ricardo Ramos em "Circuito Fechado", depois de tanto tempo, resolvi criar a minha própria história sem verbos. Para tanto, me servi de um acontecimento recente, que resolvi registrar, gravar e guardar por escrito, antes que caísse em esquecimento. Afinal, nada melhor que guardar boas lembranças e ter muita história para contar.



AMOR JUNINO
(Uma história sem verbos)


Noite, frio, rodoviária, desembarque, São João, Campina Grande, 10 e pouco... Desconhecido, olhos claros, pele clara, estatura, beleza, postura, elegância, malha azul, mangas compridas, calça jeans, sapatos marrons. Ansiedade, dúvida, pressa, cerveja em lata, ônibus, cobrador, fiscal, informação. Embarque, partida, cobrador, roleta, dinheiro, troco, fundão. Desistência, retorno, assento, cobrador, informação. Trajeto, estrada, caminho, curvas, paradas, passageiros, expectativa, trajeto, caminho, ônibus, cordinha, sinal, Praça da Bandeira, ponto final, desembarque, transeunte, informação. Faixa de pedestres, travessia, calçada das Damas, rumo, trajeto, caminho, olhares, ultrapassagem, calçada, iniciativa, coragem, abordagem, saudação. Pergunta, informação, sugestão, rumo, trajeto, caminho, destino, conversa, apresentação.

Trajeto, rumo, caminho, conversa, afinidade, apertos de mão. São João, Parque do Povo, Cachaçaria, música, conversa, barulho, bebida, sorrisos, burbúrio, intimidade, cigarro e fósforo. Conversa, barulho, proximidade e expectativa, incerteza, conversa, mistério, iniciativa. Cigarro e fósforo, olhares, bebida, intimidade, sorrisos, mistérios, revelação. Balconista, sugestão, passeio, Parque do Povo, barracas, apresentação. Conversa, relato, explicação, barracas, tumulto, forró, olhares, intimidade, cantada, revelação. Surpresa, rubor, expectativa, retorno, Cachaçaria, balconista, bebida, cigarro e fósforo. Garrafa vazia, fome, saída, barraca, crepe, saquinho, rumo, trajeto, caminho, Açude Novo, fonte luminosa e banquinho. Conversa, crepe, olhares, sorriso, investida, sozinhos. Intimidade, conversa, cantada, sorrisos, olhares, confirmação. Onze e 59. Retirada, caminhada, juntinhos; rumo, trajeto, caminho. Destino, escondido e escurinho, estrelas, fogos, luar, magia, cumplicidade e carinho, olhares, sorriso e beijinho.


Meia-noite... e viva São João!


quinta-feira

"Olha pro céu, meu amor...!"

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Sim, eu sei... é verdade.

Já estamos em Setembro... música meio fora de época, mas que se tornou muito especial para mim e que não sai da minha cabeça desde o último São João. E quem me acompanha mais de perto sabe o porque...



OLHA PRO CÉU
(Luiz Gonzaga / José Fernandes)


Olha pro céu, meu amor!
Vê como ele está lindo!
Olha pr'aquele balão multicor
Como no céu vai sumindo

Foi numa noite, igual a esta
Que tu me deste o teu coração
O céu estava assim em festa
Pois era noite de São João

Havia balões no ar
Xote, baião no salão
E no terreiro,
O teu olhar
Que incendiou meu coração...